Vendas boas, mas o caixa está negativo. E agora?
Por Edélcio Fonseca
O varejista sempre se preocupa com a venda, pois afinal depende dela um bom giro dos negócios. Mas quando as vendas vão bem e o caixa continua negativo, é motivo de parar e analisar bem o que tem sido feito e identificar onde está o erro que compromete o desempenho da sua empresa. Primeiro, não se espante achando que esse tipo de problema é exclusivo de sua empresa. Fique certo de que não é. Na verdade esse problema é muito comum. Porém, deve ser tratado com muita profundidade nas análises para ter um diagnóstico preciso, pois diversos fatores podem influenciar.
Vamos começar analisando o que pode estar consumindo seus recursos de caixa, o que equivale dizer que, nesses casos, sempre é um conjunto de fatores que invadem a reserva de caixa da empresa. Vamos citar alguns para que possa analisar e verificar se eles possuem um impacto negativo em seus negócios:
1. Capital de giro insuficiente para suportar o negócio.
2. Custo financeiro inadequado (empréstimos, tarifas e taxas):
– Taxas alta de juros;
– Tarifas abusivas;
– Multas e juros no atraso de pagamento;
– Desalinhamento de vencimentos (concentração de pagamento em um só período).
3. Relatórios financeiros e fluxo de caixa não expressam a realidade:
– Desalinhamento de gastos na linha do tempo;
– Desequilíbrio nos prazos de recebimento X pagamento;
– Índice de inadimplência elevado;
– Conflitos entre as visões de “caixa” X “competência”.
4. Falta de um planejamento financeiro envolvendo as áreas de compras e vendas:
– Compras de mercadorias sem planejamento, não considerando o giro de estoque, liquidação/descontos e prazo de pagamento;
– Compras feitas sem consultar o financeiro, faltando verificar a capacidade de pagamento e a programação;
– “Apostar” que o produto vai ter um giro muito bom e pouca mercadoria vai ficar no estoque;
– Desalinhamento de gastos na linha do tempo.
5. Despesas fixas não condizentes com a capacidade de geração de caixa:
– Pró-labore dos sócios acima da realidade financeira do negócio;
– Mistura de Gastos pessoais com os da empresa;
– Folha de pagamento e encargos “altos”;
– Quadro de funcionários superestimado;
– Custo de ocupação alto em relação à receita (aluguel, luz, água, IPTU e condomínio).
São diversos fatores que podem prejudicar e atacar o caixa de uma empresa. Para se evitar tudo isso, é fundamental ter um controle mínimo de todos os gastos, coisa que um simples DRE (Demonstrativo de Resultado) já ajuda muito. Isso pode ser feito até mesmo em uma planilha de Excel. Tendo isso tudo controlado fica fácil identificar os vilões do caixa. Basta fazer uma simples curva ABC das despesas e elas irão aparecer.
Mas se, mesmo assim, não conseguir se organizar para mudar o cenário negativo, busque uma consultoria que faça um “raio x” do negócio e possa oferecer uma visão externa e realista quanto às ações necessárias para estabelecer uma recuperação favorável. Buscar ajuda terceirizada pode ser a maneira mais fácil de detectar e eliminar falhas, que muitas vezes podem não ser tão evidentes no dia a dia comercial.
Edélcio Fonseca é especialista em finanças e M&A e diretor executivo da RVK
As Grandes empresas começaram do pequeno
Para marcas que querem crescer recomenda-se o fornecimento de tônicos. Levemente balanceados entre doses de esperança, inspiração e prática. Neste equilíbrio, grandes marcas surgem como fonte importante de exemplo, tanto positivo quanto nem tanto. Mas quando estes ícones do branding são trazidos à discussão estratégica, alguns interlocutores argumentam que quando se é grande fica fácil fazer qualquer coisa. Dinheiro, equipe, público. Tem tudo à mão.
Mas como marcas gigantescas e icônicas começaram? Grandes e imponentes ou pequenas e audaciosas? Nike, HP, Apple, Häagen-Dasz. Quatro marcas, quatro exemplos. Inícios inconstantes, possibilidade de sucesso duvidosa. Histórias que se assemelham a milhares de marcas que querem se lançar ao mercado, mas tem dúvidas sobre os caminhos e a energia que devem despender.
Intimamente ligada ao mito do (super) herói, a Nike carrega uma origem autêntica nas pistas de corrida. Nascida em campos de treinamento. Dois idealizadores, corredor e treinador, apaixonados por encontrar um produto que melhorasse o desempenho de atletas profissionais. E um trabalho de posicionamento perfeitamente executado.
Por outro lado, HP e Apple nasceram em contextos parecidos, separadas por décadas de distância. A primeira no início do boom dos equipamentos eletrônicos, impulsionada pela paixão de dois inventores. A segunda no grande boom dos computadores pessoais, igualmente alicerçada em dois idealistas da contra-cultura. Grandes ideias recheadas de ousadia nos negócios. O primeiro contrato da HP foi feito com Walt Disney para produzir o filme Fantasia, hoje um clássico do desenho animado. Já a Apple, despontou criando um contraponto ao mundo dominante da IBM, líder incontestável da época.
Em outro segmento, para muitos sorvete tem um sinônimo: Häagen-Dasz. Cremoso, sofisticado, premium. Como um bom sorvete nascido no Bronx. Bronx? Sim, poucos sabem, mas o berço deste sorvete ícone não é a Europa, mas um bairro nova iorquino que pouco combina com os atributos hoje reconhecidos da marca. Sabiamente, seu criador procurou conferir um nome que remetesse aos países nórdicos, mesmo não o sendo. Inclusive, o jogo de letras e o nome composto não guardam qualquer significado na língua onde foi inspirado, o dinamarquês. Mas carrega todo sentido na percepção desejada junto ao seu público consumidor.
Assim da próxima vez que ouvir uma história de grande marca, lembre-se que ela começou como você. Pequena e invisível no mercado. No porta-malas de um carro, como a Nike, na garagem como HP e Apple, ou na cozinha de casa em um modesto e violento bairro como Häagen-Dasz. Mas nem por isso, os contextos contrários, os desafios imensos, fizeram marcas e empreendedores desistirem. Eles estavam com grandes ideias nas mãos e na busca das ferramentas certas para fazê-los conquistar o mundo. Pense seriamente nisso quando tentar encontrar desculpas para não ir além.